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AS SEGUNDAS-FEIRAS

#sextou

Já há algum tempo ando vendo essa expressão acima, escrita assim mesmo, precedida daquilo que eu conhecia como “jogo da velha” e agora chamam de hashtag.

Confesso que custei um pouquinho para entender o significado dessa expressão, colocada geralmente em fotos que remetem a situações de prazer (festa, praia, happy hour com amigos, cerveja gelada…) postadas nas redes sociais obviamente às sextas feiras.

Entendi tratar-se de uma comemoração pela chegada do final de semana. Ponto. Nada de errado com isso. Todo mundo gosta e precisa de um merecido descanso após uma semana de trabalho pesado, compromissos, agenda cheia e horários apertados.

E tudo bem.

Mas eu nunca vi um #segundou em nenhuma rede social. Talvez tenha, perdoem-me. Mas eu nunca vi.

É clássico o sentimento de desalento de domingo à noite, quando uma nova semana de trabalho se aproxima e também é clássico que a segunda-feira é entendida por muitos como o dia mais chato do mundo pelo simples fato de ela, a segunda-feira, estar distante da sexta feira.

Fico me perguntando o porquê disso. Trabalhar é bom, produzir é melhor ainda. O final de semana só tem valor por vir depois de uma semana de trabalho, caso contrário seria um período como outro qualquer. As férias só são ansiosamente esperadas porque duram pouco e criam um hiato saudável na nossa rotina de trabalho.

Mas trabalhar é bom. Produzir é sensacional. Então porque as pessoas esperam com tanta ansiedade pelo final de semana e pelas férias? Porque as pessoas querem tanto que a semana passe rápido para chegar logo uma nova sexta feira? Estamos, dessa forma, apenas apressando o nosso próprio fim, querendo que o tempo passe rápido. Nossa morte chegará rapidamente também.

Assisti a uma palestra uma vez que dizia que se vivêssemos somente nos finais de semana nosso ano teria, no máximo, 96 dias ao invés de 365. Não sei não, mas acho que eu não seria feliz com isso.

Nossa mente está sempre nos pregando peças, truques para que acreditemos que o que ela ressoa é verdade. “Nosso emprego é chato”. “Não somos valorizados”. “A rotina é maçante”. “Nosso chefe está todo errado”. “Deveríamos ganhar mais”. “Deveríamos ser promovidos”. Deveríamos, precisaríamos e se, e se, e se…

Não há nada de errado em ambicionar algo melhor, veja bem. Mas essa ambição não tem a ver com o fato de que necessariamente deva haver algo de errado com nossa vida hoje. A ambição deve vir do simples fato de querermos crescer, aprender, nos desafiar.

Se há, realmente, algo de errado com nossa rotina e com nosso trabalho atual, sempre podemos mudar. De rotina, de trabalho. – “Ah, mas e os boletos? E as obrigações, e as contas com a casa, a escola das crianças, o plano de saúde, as parcelas do carro novo?”.

Essa é a sua mente falando, te pregando peças novamente. Sempre podemos mudar, ainda que para isso tenhamos que abrir mão de coisas que nos são caras (ou que acreditamos que sejam). Sempre podemos mudar de emprego, de rotina, de custos fixos… Ou simplesmente podemos mudar a nossa forma de ver as coisas.

Sempre podemos parar de reclamar e viver as coisas que nos são apresentadas, no momento em que nos são apresentadas, com plenitude. Desfrutar dos momentos. Desfrutar da nossa rotina, do trabalho e se estiver pesado demais para você, ruim demais para você, mudar.

Afinal, nada é estático e estamos mudando sempre. Queiramos ou não.

Você conseguiu o trabalho dos seus sonhos, a tão sonhada promoção? Desfrute dele, mas saiba… Em breve ele vai acabar.

A promoção não veio, você não foi o selecionado na entrevista de emprego? Claro que você pode se chatear, mas logo depois comece a pensar em novas maneiras de atingir seus objetivos ou redefina seus objetivos, pois essa situação também vai mudar.

Desfrute de sua semana de trabalho, sua rotina. Ela também vai acabar. Assim como o final de semana.

O que te aprisiona talvez não seja a sua rotina, nem as suas obrigações e muito menos a pobre da segunda-feira que não tem nada a ver com isso. O que te aprisiona é a sua reclamação.

Talvez esteja justamente em uma segunda-feira a chave para abrir a porta da prisão que sua própria mente criou.